Os caminhos de 22 (ou dizer não ao não)

 

"Este é o segundo artigo da pequena série que comecei a publicar aqui no contexto das celebrações do centenário da nossa Semana de Arte Moderna – dando sequência a Necessidade da vacina antropofágica. Tomo-a, no entanto, mais como um marco, como referência simbólica, mais do que um evento a se exaltar ou desconstruir. Interessa-me partir daí para o que ela representa nacionalmente. E destaco, nesse sentido, como seu ponto alto, o Movimento Antropofágico liderado por Oswald de Andrade.

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            O Modernismo brasileiro são muitos. O que pode significar aí “ser moderno” e o que pode significar “ser brasileiro” não permite que o conjunto abarcado por esse rótulo prescinda da sua natural pluralidade. Por outro lado, se as narrativas servem para alargar horizontes, elas devem também delimitar terminologias, conceitos, descrições. As muitas motivações que levaram gente tão diversa (e divergente) a se engajar conjuntamente na Semana de Arte Moderna no Theatro Municipal de São Paulo, em fevereiro de 1922, não são suficientes para que “modernismo” seja um nome coringa nas aspirações de todos eles. Acredito que há três caminhos paradigmáticos partindo da Semana de 22, dois dos quais representam opções a serem rejeitadas como referência de um imaginário geral (cultural, social, político, filosófico e artístico) do que signifique a Modernidade desde o Brasil – e aí o nosso Modernismo realizado. O terceiro desses caminhos é o que orienta, de fato, um “Modernismo brasileiro” em seu melhor sentido para esse imaginário geral. Mas não só isso: eles encontram hoje correlatos, reencenando opções de elaboração nacional atualizadas, cem anos depois..."
 
 
Rodrigo Ornelas
Doutor em Filosofia e membro do GT Poética Pragmática (UFBA)